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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Preconceito: por que aceitar as pessoas é tão difícil?

Recentemente publiquei um post falando sobre homofobia. Foi uma das minhas publicações que mais chamaram atenção das pessoas para refletir sobre o assunto. Todos que viram o post ficaram comovidos com os depoimentos, então conversando com um leitor, tive a ideia de fazer outro post parecido, só que dessa vez abordando todos os tipos de preconceito.

Convidei mais uma vez, algumas pessoas que toparam compartilhar suas histórias conosco. Todos esses depoimentos são reais e vale muito a pena pensar um pouco sobre como as pessoas se sentem.


"Eu sempre uso roupas mais largadas no meu dia a dia. Minha igreja fez um baile de primavera no qual os trajes eram de gala e você deveria ter um par, um amigo me chamou e eu tinha outros interesses nele, mas não era recíproco. Ele convidou uma outra menina que gostava, mas ela deu um pé nele e ele resolveu me chamar. Como se não bastasse eu ser segunda opção, ele ainda ligou para um dos nossos amigos em comum uma semana antes do baile e disse: "estou preocupado, acho que a Ana vai me fazer passar vergonha no baile pois ela não se arruma, ajuda ela, por favor, se não vão rir de mim". No dia do baile cheguei muito bonita, e aquele hipócrita ainda tentou me beijar. Fui coroada a rainha e fiz um discurso sobre o quão superficial é a beleza, que antes eu havia sido ingênua demais em pensar que poderia despertar algo em alguém sendo apenas eu, mas que naquela hora não importava mais, pois eu sei a quantidade de beleza que abrigo em mim e me desculpei pelo desabafo, então, me retirei do baile. Senti raiva, senti nojo e vontade de gritar, não conseguia sentir quem eu era. Só queria dizer que o tempo é a unidade de medida que controla tudo e que com ele aprendemos a nos livrar de achismos, de coisas que não nos acrescentam em nada e a tratar melhor as pessoas. São experiências assim que mudam uma pessoa pra sempre, porque viver sempre em função de um padrão quando podemos nos reinventar e dizer um basta para essa sociedade que nos reprime. " (A.C)

"Eu trabalho em mercado e muitos representantes ou repositores de algumas empresas vão lá. Certo dia eu estava na parte da perfumaria quando um repositor de uma tal empresa perguntou meu nome. Eu respondi: "Camila, senhor.", e ele disse que meu nome era lindo. Falei que não gosto e que prefiro que me chamem de ruiva, então ele disse assim: "Camila, teu nome é lindo e eu vou te chamar de Camila. Queria contar que um dia eu e mais um casal passamos por você e uma coisa me chamou a atenção", já imaginei que poderia ser o piercing no septo, então ele continuou: "Você é tão linda, por que fazer isso com você? Deus te deu um rosto lindo, Ele não quer isso, você vai ser cobrada porque você está se estragando". Bom, eu não acho que uma pessoa possa falar isso pra alguém, o corpo é nosso e temos o livre arbítrio, se Deus for me cobrar, será entre eu e Ele. Tenho pena de pessoas que acham que vou deixar de fazer algo por alguma coisa que está escrita na bíblia. Temos que viver, só temos essa vida! Fiquei chateada pois não se julga ninguém por essas coisas, isso é ridículo!" (C.F)


"Eu estudava em uma escola privada e quase não tinha amigos lá, falava apenas com um amigo e éramos só nós dois negros na sala de aula. A sala era dividida em duas fileiras e sempre sentávamos juntos. Um dia cheguei atrasado e ele não tinha ido na aula, havia quatro lugares vagos, fui sentar no primeiro e a menina disse que já tinha alguém sentado ali, fui sentar no segundo e uma menina que ocupava o lugar do lado colocou a mochila na cadeira, fui sentar no terceiro e a menina disse que não era pra eu sentar ali, então fui sentar na última opção, tirei minha mochila das costas e quando fui colocar na mesa o menino disse: "preto não senta do meu lado". Saí da sala e apenas fui chorar no banheiro. O pior de tudo é que ninguém, nem o professor me defendeu, isso foi o que mais me magoou." (J.V)

"Sofri preconceito por ser morena e estudar em uma escola aristocracia branca da minha cidade. me chamavam de encardida. Sofri preconceito por não ser rica e me ofenderam por eu não poder comprar os materiais do colégio por não ter dinheiro e o diretor me ajudar a comprar. Já me ofenderam por causa da minha aparência, por ter pelos no rosto e corpo, como se isso fosse ruim, e por ter dentes tortos antes de usar aparelho. Diversas coisas que com o tempo vão acumulando e fazem você se sentir um lixo." (N.A)

"Quando eu tinha mais ou menos seis anos, ainda estava na alfabetização, mas lembro disso porque foi algo que marcou muito. Estávamos meus coleguinhas e eu na educação física e fomos para a quadra, foi tudo bem mas quando a aula acabou, fui uma das últimas a ir embora. Três meninos da minha classe me chamaram e eu fui, nisso eles me colocaram contra a parede e começaram a falar coisas horríveis. Mexiam no meu cabelo e falavam coisas do tipo "seu cabelo é ruim", "você é feia" e outras frases preconceituosas. Até hoje não entendi qual foi o intuito daquilo! Atualmente falo com dois dos meninos que fizeram isso, porém acho que eles não lembram do ocorrido, afinal, já fazem nove anos, mas quando acontece com a gente é impossível de esquecer. Não guardei rancor de nenhum deles, foi horrível, mas foi algo que me fez crescer bastante em relação a minha personalidade." (L.A)


"Me chamo Gabriela, tenho dezessete anos e desde que entrei no colégio fui vítima do preconceito por ser uma criança diferente, pois antes de ser Gabriela, meu nome era Kairo. Eu era uma criança transgênero, sempre me identifiquei com o gênero feminino, mas vim do sexo masculino. Quando comecei a aparentar sinais de que queria ser tratada como uma garota, apanhei de dois meninos. Minha mãe costumava ir no colégio pelo menos quatro vezes por mês pra resolver problemas de preconceito. Aos meus dez anos, quando me transformei em uma andrógena pra chegar mais perto do mundo feminino, fui agredida no banheiro da escola. Muitos meninas viram a agressão e não fizeram nada. Fiquei com um corte no rosto e fui parar na secretaria, onde nenhuma providência foi tomada. Tive que mudar de escola, fiquei três anos em um colégio novo, onde vivi sendo xingada de "viado, traveco, bixa, baitola" e isso me machucava muito. Quando resolvi ser totalmente uma mulher trans, fui agredida por metade da escola nova. Fiquei paralisada no chão, apanhando e sendo pisoteada por seis pessoas, quando consegui levantar ainda tonta, vi meninas puxando meus cabelos, me arranhando, sem ao menos entender o que estava acontecendo. Já estava sangrando, arranhada e vermelha, no chão e com os olhos fechado esperando a morte ali mesmo, com as dores pulsando em meu corpo, desnorteada, fui salva por um senhor e uma senhora que afastaram aquele bando de animais de mim. Até minha mãe chegar, fui para o hospital e fiquei três dias internada, adquiri depressão e esse tempo foi o suficiente pra eu perceber que queria morrer. Minha mãe foi na escola tomar suas providências, todos que me agrediram disseram que foi porque homem foi feito pra mulher e que eu tenho inveja das outras meninas. A mãe de um dos agressores apenas disse que eu mereci apanhar. Após três semanas, eu já podia voltar para o colégio, os agressores foram colocados em outro turno, mas ainda assim não tinha vontade de voltar. Minha mãe fez um boletim de ocorrência mas o delegado disse que eram todos menores de idade e ele não poderia fazer nada. Perdi quatro meses de aula, tive que ter acompanhamento psicológico, criei forças e me curei. Não vou dizer que a dor de ser agredida já passou, pois toda a vez que me deparo com a data da agressão, as lembranças voltam e isso dói muito. Espero que um dia a justiça seja feita!" (Gabriela)


"Eu sofro preconceito por ser gay, dos meus colegas, de pessoas conhecidas e de um ou outro parente. Minha mãe e meus irmãos me aceitam bem, pra mim isso basta! Mas eu lembro de quando mudei para outro estado e comecei a estudar em um novo colégio. Na primeira semana eu apanhei três vezes, isso já faz cinco anos e até hoje acontece de eu estar voltando da escola ou serviço e grupos de "machões" virem me atacar. Isso tudo no começo fazia com que eu mesmo me machucasse, me odiasse e me autocriticasse por ser gay. Teve um dia que apanhei de vários colegas da escola e o professor disse que eu tinha motivo: porque eu era gay e isso era contra Deus. Cheguei em casa e me dopei de remédios, cortei meus pulsos de uma forma do qual nunca havia cortado antes e só lembro de acordar nove dias depois no hospital. Minha mãe chorava ao meu lado e se culpava por não poder fazer nada por mim, foi a pior coisa que eu já vi. Não era culpa dela nem nunca foi! Isso tudo por eu ser gay, por querer ser feliz ao lado de outro homem. Minha mãe me colocou em uma clínica na qual fiquei por sete meses pra me recuperar, quando sai, voltei a estudar normalmente. Atualmente ainda apanho, mas não conto pra minha mãe porque prefiro ver ela sorrindo e achando que estou bem, do que chorando e se culpando. Só queria que as pessoas respeitassem a minha opção, eu optei por mim e não pelo mundo!" (H.P)

"Um tempo atrás estava eu e uma garota no shopping, nós estávamos abraçadas na escadaria quando um segurança chegou e pediu para que fossemos para um lugar mais reservado. onde não estivéssemos aos olhares de outras pessoas. Eu fiquei tipo (?) , não pensei duas vezes e fui embora. Não fiquei triste mas penso em como ficaria outro casal gay no nosso lugar. Só penso em como as pessoas ainda precisam evoluir!" (S.L)


Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as pessoas que compartilharam suas histórias comigo. Em segundo, gostaria de pedir pra você, que leu todos esses depoimentos, parar um pouco e refletir. Se colocar no lugar dessas pessoas e pensar como seria. Eu tenho certeza, que se todos fizessem isso, com o tempo o mundo se tornaria um lugar melhor. E por último, pedir desculpas pelo post ter se tornado longo.

Recomendo que leiam este artigo do site Jornalismo Junior, que fala da sexualidade e ignorância, com imagens de pessoas segurando cartazes com frases preconceituosas que ouvem diariamente.

E ah, vocês gostaram desse tipo de post aqui no blog? Me contem aqui nos comentários porque andei pensando em trazer uma publicação com histórias reais uma vez por mês. Achei que seria válido justamente pra fazer as pessoas refletir sobre esse assunto. Enfim, era isso. Espero que vocês tenham gostado, beijos e até a próxima ♥

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